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quinta-feira, 31 de julho de 2014

Dinossauros voando




E as aves foram dinossauros um dia. É o que revela uma pesquisa divulgada há pouquíssimo tempo no mundo científico e tornada pública hoje pelas meios de comunicação. Fiquei perplexo, embora já tivesse lido algo e ouvido em conversas com amigos professores. Faltava um elo, e num pequeno osso, encontrado num fóssil antiquíssimo, descobriu-se o elo entre dinossauros e aves - uma mutação que foi acontecendo ao longo de dezenas de milhões de anos.

Bobagem polemizar aqui entre teorias da evolução e criacionistas. Big bangs e fiat luxes não fariam sentido a essa reflexão e pouco acrescentariam. O fato é que se leva muito tempo para se descobrir de onde as coisas vêm. Há poucos dias, postei aqui sobre o fato de os cientistas reconhecerem que não sabem a origem de pelo menos 80% da luz que há no Universo. Igualmente, nós, simples mortais, não sabemos a origem de certas coisas que nos dizem, de certas emoções que nos assaltam, de certos gestos que nos são oferecidos.

De igual modo, também leva muito tempo para se saber para onde as coisas vão. As estrelas, com seu brilho remoto, continuam indo, embora tenham explodido há muito, muito, muito tempo. Cometas continuam indo. Meteoros. Também continuam indo palavras, sentimentos, gestos. Nós mesmos continuamos indo. Como diria Drummond: "José, para onde?"

O que nos cabe saber, muitas vezes, é apenas e tão somente que as coisas vão. Que as coisas vêm. No limite insano do imponderável resignamo-nos à nossa ignorância talvez por não suportarmos o quantum de verdade que pode explodir à nossa frente. Os gigantes dinossauros migraram para aves - algumas grandes, outras bem pequenas. O que fizemos, o que fazemos, o que faremos para levar a bom termo cada segundo dessa nossa existência incógnita? Não sabemos, pois tais ideias são menos que dinossauros voando.

quarta-feira, 30 de julho de 2014

Falta um pedaço



Tenho admiração por aqueles que conseguem superar grandes dificuldades. De igual modo, respeito muito os que não conseguem, embora tentem honestamente. O rapaz da imagem que ilustra este texto pode ser um exemplo: uma pessoa biamputada que, utilizando suas próteses consegue levar a vida normal e fazer coisas que muita gente normal não é capaz. O rapaz da foto surfa.

A música de Geraldo Azevedo me vem à mente neste momento, especialmente os versos "É duro ficar sem você vez em quando; parece que falta um pedaço de mim". E deve ser esta mesma a impressão da pessoa a quem faltam membros. Apesar de conseguir levar a vida normal, ela tem a certeza de que algo lhe falta. É assim que Humberto Gessinger complementa este pensamento: "toda vez que algo nos falta, o invisível nos salta aos olhos".

Me vêm à mente também os versos de Chico, na música "Pedaço de mim", nos quais ele afirma que "saudade é o revés de um parto; a saudade é arrumar o quarto do filho que já morreu". Não ter algo é também conviver com a sensação que o Chico cria nesta mesma música com a metáfora do barco que, aos poucos "descreve um arco e evita atracar no cais". Deve ser algo assim: tem-se a clara sensação de que ele está vindo, mas nunca chega.

E assim vamos. E assim ficamos. E assim vemos. E assim vimos levando a vida: com muitas coisas bastante presentes na nossa vida e com a certeza de que "algo nos falta", algo que parece estar muito próximo. Mas só parece. Algo que faz questão de marcar sua ausência fazendo estar presente na memória a consciência da sua não presença. Mas, como o atleta da foto acima, tentamos levar nossa vida "Normal. Mente"

terça-feira, 29 de julho de 2014

Fim das férias - mais de nós



Sim, oficialmente as minhas férias estão em seus minutos finais. Mesmo considerando que hoje já foi dia normal de atendimento no escritório, vou considerar o fim das férias apenas nesta noite, porque amanhã às 7h já volta tudo ao normal, oficialmente. Não reclamo nem um pouco e nem sou caxias (como se diz no Rio) por gostar de voltar ao trabalho. Embora eu quisesse muito que as férias se estendessem mais um pouco, tenho razões para não reclamar, porque estive mais comigo mesmo.

Primeiro porque foi um tempo em que pude curtir minhas filhas o dia todo. Cuidei delas, levando a médicos (saúde em primeiro lugar), ajustando documentos, saindo muito para nos divertir e, sobretudo, passando 8 dias inesquecíveis na capital alagoana, Maceió. Lá pudemos conhecer praias de tirar o fôlego - com águas que parecem pinturas, de tão cristalinas, um verde-água daqueles que se confundem com azul. Passeamos de buggy, de barco, de jangada. Fizemos flutuação e mergulho para observar a fauna e a flora marinhas, fizemos compras, comemos bem demais e dormimos melhor ainda. Do que reclamar? Estivemos mais diante de nós mesmos.

Enfim também pude arrumar meus livros. E, muito cá entre nós, não são poucos não. Há livros meus aqui em casa, na casa da minha mãe, no colégio e no escritório. Muitos, que eu fiz questão de pôr em ordem. E como isso é terapêutico! Não só por vê-los organizados, mas também por ver quantos deles já não são utilizados há tempos e podem muito bem servir a outras pessoas. Além disso, porque vejo quantos habitam minha estante há anos e ainda não foram vasculhados pelos meus olhos. Acho que há alguns cuja companhia me faz mais bem do que a leitura.

Como as férias também são períodos de estar longo tempo despreocupado, muitos pensamentos invadem minha cabeça e eu cedo a eles, como quem cruza os braços e espera o discurso alheio. Correções de rota, aprofundamento de pensamentos, projetos que nascem, planos que se desenham, confusões que se clareiam, clarezas que se confundem. É... as férias nos afastam um pouco do trabalho mas nos colocam diante de nós mesmos para vermos o que passa célere na correria do cotidiano.

sexta-feira, 18 de julho de 2014

Quando os filhos ensinam



Sim: às vezes as coisas parecem estar invertidas na vida. Na verdade, isso não acontece de uma hora para outra, mas vai ocorrendo aos poucos, um pouco a cada dia. E quando uma mudança grande se dá, a gente se assombra tanto, que parece ter acontecido assim, como um zás-trás. Um exemplo claro disso é quando nós, pais, nos vemos em posição de aprendizagem diante dos nossos filhos, que nos ensinam.

Muitas vezes vi isso acontecer comigo, porque presto muito atenção no que minhas filhas aprendem. Aos poucos, vi que passaram a tomar banho sozinhas. A escolher por si mesmas a roupinha que queriam vestir; e mais: a se vestir sozinhas. A se pentear sem minha ajuda. A opinar sobre onde ir, sobre o que fazer. A escrever sozinhas; a estudar e a resolver problemas sem que precisassem de minha interferência.

Muitas vezes, me ensinaram uma coisinha aqui, outra ali: de Biologia, de Física, de Geografia... um pouco de tudo. Depois que as matriculei no Inglês, tive o prazer de ser ensinado por elas sobre dúvidas que eu efetivamente tinha. E isso foi-se dando tanto e com tanta naturalidade, que virou algo comum. Pois é: desfruto do privilégio de aprender com minhas filhas, desde coisas pequenas e pontuais, até outras mais complexas.

Nesta semana, em que começa o período de férias em que passam comigo, tenho aprendido muito a respeito de alimentação saudável. Elas sabem muito mais do que eu lhes havia ensinado. O ânimo delas quanto a isso é contagiante. E o que é mais impressionante para mim: o que estamos lendo juntos e fazendo juntos mudou o meu comportamento para melhor. É assim que vejo um pouco como as coisas mudam: os pais ensinam os filhos a viverem melhor; os filhos ensinam os pais a viver melhor. 


quarta-feira, 16 de julho de 2014

Sabemos nada, inocentes

NGC 7000 nebula


Sempre olho as notícias relacionadas às descobertas científicas; as de menor proporção, como a de uma parte do joelho humano que ainda não havia sido estudada; e as de maior proporção, como esta, segundo a qual 80% da luz do Universo tem origem desconhecida. Já seria um número extraordinário se fosse relativo ao Universo. Torna-se ainda mais quando se toma o número 80%. Claro que isso me lembra o conteúdo de um recente anúncio publicitário em que se diz: "Sabe nada, inocente".

Não é demais lembrar que todos nós somos incrivelmente pequenos diante da magnitude deste nosso planeta. Demais também não lembrar que este nosso planeta é um nadinha no meio da galáxia de que ele faz parte. E se pensarmos que esta é apenas uma das muitas galáxias que compõem o Universo, aí não só vemos o minúsculo tamanho da Terra, como também somos levados a refletir sobre a nossa ínfima condição nesta existência.

Pois os cientistas não sabem de onde vem 80% da luz do Universo. E, por certo, não se trata de um cientista pequeno e despreparado ou sem recursos tecnológicos altamente avançados. Por certo, trata-se dos melhores cientistas, com acesso aos melhores equipamentos. E nem assim. De fato, mesmo de posse de uma gama de recursos, a nossa impotência se apresenta.

Isso me lembra a música do Pink Floyd: "Shine on you crazy diamond", que vai tratar justamente da luz de uma pessoa, de um amigo, de um companheiro de profissão, cuja luz vai se ofuscando. E me lembra também de como algumas pessoas brilham tanto para nós. O que não sei ao certo é se somos nós (ou não) que as fazemos brilhar mais (ou menos). De onde virá a luz que vemos nas pessoas? Para onde irá a luz que deixamos de ver nelas?

terça-feira, 15 de julho de 2014

Ecos da Copa



A Copa do mundo de futebol acabou no domingo passado. Foi um jogão que vai deixar muitas lembranças boas e algumas ruins. Se é assim dentro do campo, também será fora dele. Não tenho dúvidas de que foi uma das melhores copas do mundo; ao menos é o que dizem as notícias a respeito da avaliação, sobretudo, dos estrangeiros. 83% aprovaram a organização, o conforto nos estádios e a infraestrutura oferecida. Dentro de campo também: não perdeu em gols para nenhuma outra copa, foi mais emocionante em termos de prorrogações e pênaltis, revelou mais jogadores etc.

Há também outras coisas pós-jogo que merecem ser lembradas. Os alemães, que já tinham dado show desde sua instalação no Brasil, em Santa Cruz Cabrália (onde o Brasil foi descoberto - onde Cabral desembarcou primeiro) e todos os benefícios que proporcionaram à população local, passando pela simpatia dada ao e recebida pelo povo brasileiro, sem contar a inesquecível goleada... até chegar ao que fizerem hoje em seu país: receber o reconhecimento de todos e festejarem.

Os argentinos deixam o país com uma série de problemas causados. Só de multas de trânsito, segundo reportagem da Uol, sua dívida chega a 2 milhões. Sem contar os quebra-quebra, os lixos deixados, as confusões armadas por eles e a choradeira pela perda do título e pela gozação dos brasileiros. Não foram ao encontro das pessoas que os esperavam na praça do Obelisco em Buenos Aires por medo de falta de segurança. Mas foram a uma balada para comemorar, como se pode ver pelo noticiário de hoje.

E os brasileiros? E nós? Nós ainda procuramos um rumo. E não só para a seleção e a CBF, mas para o próprio povo. Foram mais de 20 bilhões de reais gastos entre construções de estádios e em infraestrutura geral. Mas o que me incomoda mesmo é aceitar que de todas as obras previstas para a Copa, 23 delas não foram terminadas ainda!!! Isso soma um gasto de 11 bilhões. As causas são muitas: burocráticas, judiciárias, técnicas... Este é mais um eco que vai soar na nossa cabeça por muito tempo. Infelizmente nos lembraremos menos disso e mais dos 7 a 1.

segunda-feira, 14 de julho de 2014

Da razão para a desrazão: um prefixo

Farah caminha pelas ruas da cidade / Reprodução/Band

Há 11 anos, um acontecimento abalou a cidade de São Paulo. Era dezembro, antevéspera de Natal, época que - até pelo próprio nome - lembra nascimento, vida. É momento de celebrar a vida em família, com pessoas a quem queremos bem. Tudo bem, que comercialmente lembre troca de presentes. Para muitos, lembra descanso, viagem... e mais uma série de coisas positivas. Foi em um 23 de dezembro que um médico, assassinou e esquartejou uma de suas pacientes, que também era sua amante.

Falo de Farah Jorge Farah não só assassinou e esquartejou sua paciente e amante, como também teve a capacidade de exercer friamente aquilo que, teoricamente, fazia de melhor: algo como um procedimento de cirurgia plástica: ele tirou milimetricamente a pele do rosto, das mãos e dos pés de Maria do Carmo Alves. À época do julgamento, sua Defesa ainda tentou argumentar dizendo que o então médico havia cometido o crime para se defender da moça que supostamente o atacara.

Há mais absurdos nessa história, mas não é nenhum desses que me incomoda neste momento. Incomoda-me o fato de alguém com a formação que tem, com a missão que tem, com a responsabilidade que tem, com a condição geral que possui - enfim - dar-se ao luxo de cometer uma atrocidade dessas. Que botão se desliga na cabeça do indivíduo, que o torna capaz de falar mais alto que o superego (como ensinou Sigmund Freud)?

Cada vez mais fico convencido de que entre a razão e a desrazão, tudo é só uma questão de prefixo; é uma linha de seda frágil e transparente. É algo que não resiste a um sopro, algo que se recusa a recuperar aquele milésimo de segundo para a chegada da razão. Li hoje que esse, então conceituado médico, foi visto pelas ruas, perambulando a revirar lixo - de onde tira coisas e guarda numa sacola. Teria perdido a razão e saído em busca de restos do corpo da moça que não foram encontrados?

domingo, 13 de julho de 2014

Furtar de quem não tem



Bem que queria, mas vou refrear um pouco o meu desejo de escrever sobre o final da Copa do Mundo de Futebol, vencida pela Alemanha hoje. Ainda há um assunto pendente, sobre o qual preciso falar, e ele se deve a uma experiência que se deu no dia em que parti para uma viagem da qual retornei apenas hoje. Tenho muito prazer em dirigir, tanto que em muitos pontos a trajetória chega a ser mais bonita do que o próprio destino.

Todavia, não é da beleza da trajetória que vou tratar, mas de algo ruim da minha ida. Aconteceu antes mesmo de eu pegar a estrada. Abastecia o carro e, na hora de pagar, passou pelo posto um senhor com sua filha, puxando uma carroça e cumprimentando os frentistas. Dada a simpatia daquele homem quis saber um pouco mais e perguntei sobre ele ao frentista. Este me contou que se tratava de uma pessoa especial e batalhadora. Quando se distanciava de nós, o frentista lhe perguntou sobre aquela nova carroça que ele puxava. A resposta me surpreendeu.

"Ah, esta daqui é nova mesmo, porque aquela lá me roubaram". E se foi para o lugar da rua em que mora num trailler abandonado, que foi pintado por ele a ajeitado para morar com a filha. Entre mim e o frentista surgiu a inevitável pergunta: estão roubando até carroças? A indignação era evidente, a perplexidade, e todo tipo de sentimento impactante que possa ser gerado deste incrível fato de um puxador de carroça ter furtado o seu objeto de trabalho.

É interessante como se configuram os objetos de desejo (e ou de necessidade) em função das posições que as pessoas ocupam neste mundo. Há quem furte carros de luxo; há quem furte carroças. O ato é o mesmo, mas a nossa comiseração difere em razão da condição social de quem foi furtado, de acordo com sua capacidade de se refazer do que lhe tiver sido furtado durante a viagem que é a própria vida. Assim como a minha viagem, a vida em si mesma tem em sua trajetória paisagens tiram a nossa atenção do destino pretendido.

quarta-feira, 9 de julho de 2014

Alegria nos olhos acinzentados



Ontem por algumas frações de segundo eu me vi assaltado por uma dúvida que alterou minha forma de pensar. Uma dúvida sobre mim. Dúvida simples. Característica do fato a que ela mesma se refere. Não sei bem por que e nem o que eu pensava no momento. Sei que ao quantificar minha idade, não tinha certeza se eu tinha 44 ou 45 anos. Uma matemática simples e de cabeça me tirou a dúvida rapidinho. Mas quis recorrer a uma calculadora..., que confirmou: vou fazer 46 em três meses.

Voltei ao que fazia em meu escritório e me passou a ideia. Mas não totalmente, porque, como uma enfermidade crônica, uma chuva de verão, uma esquina ou um bumerangue, ela sempre está se fazendo presente. E hoje, ao ir visitar um tio numa cidade próxima, essa ideia se aproximou novamente de mim. E agora eu sei por que: meu tio dirige uma instituição voltada apenas para o cuidado de idosos. Em meio a sorrisos, cafés, histórias e bolos, eu manifestei minha vontade de ir com ele àquela instituição - como sempre faço, aliás. Mas hoje tinha mais motivação.

Não são idosos, apenas. São velhinhos mesmo. Conversei, cumprimentei, conversei e olhei com muito carinho cada uma daquelas pessoas que têm já seus 80, 90, 100 anos. Uma tem 105 anos. 105. Já cadeirante, já falando pouco, já com os olhos acinzentados. Aquela experiência ia me despertando ainda mais ternura por cada um deles. Mais eu queria ouvi-los, mais eu queria sorrir com eles. Na verdade, um misto de tristeza também queria me assaltar algumas vezes, mas eu fui resistente e fixei minha atenção ao bem que aquela experiência me trazia.

Parece voltarem aos tempos de criança. Já dependentes de outras pessoas para muitas coisas. Já desconexos em sua fala. Já sorridentes ao extremo ou dispersos ao extremo. Alguns ali conviviam com dores constantes invencíveis. Um e outro com algum ferimento. Alguns com sondas penduradas. Mas todos com quem conversei, tinham uma alegria perene, uma doçura no seu jeito de ser, e respondiam com um sorriso tão aberto às brincadeiras do meu tio, que desejei aquele espírito, independentemente de ter 45, 46 ou 105.

terça-feira, 8 de julho de 2014

Saber ganhar



A vitória da seleção alamã sobre a brasileira hoje ensina muita coisa a quem quer aprender. E não digo apenas no que diz respeito ao futebol. Nesse âmbito, embora eu entenda um pouco por jogar e assistir, certamente não sou capaz de dizer em termos técnicos o que há a aprender. Também não cabe a mim, já que não sou responsável por nenhuma equipe de futebol.

Mas quando a gente para e observa o jogo desta semi-final, pode-se ver um time que tinha uma proposta de jogo, que estudou o adversário e soube explorar os pontos fracos tanto do ponto de vista tático quanto do ponto de vista emocional. Os gols foram bastante parecidos, e a maioria deles saiu num espaço curtíssimo de tempo. Como se fosse um lutador aproveitando um momento de fraqueza no qual um golpe havia entrado com sucesso. Daí, passa a aproveitar e desferir outros tantos.

Mas o mais interessante para mim nem foi o 7 a 1 em si. Isso foi humilhante não só para os jogadores que representavam a nação, mas também (e muito mais) para a nação representada. O mais interessante foi que em nenhum momento do jogo se viu qualquer alemão fazer gesto algum que pudesse representar menosprezo aos brasileiros. Respeitaram até o final da partida. E mesmo na comemoração foram (até como é de se esperar de alemães) discretos.

Por certo estavam preparados para ganhar e souberam demonstrar isso, pois foram eficientes na preparação para o jogo, durante todo o jogo e no pós-jogo. Aí está a lição: entrar para vencer implica não apenas disputar, mas estar devidamente preparado para a luta, saber portar-se nela tendo em vista suas forças e as fraquezas do adversário, além de repeitar o perdedor como digno de ter estado naquele combate.

segunda-feira, 7 de julho de 2014

Útil



Todo mundo sabe que a vida da gente é curta. Que dura pouco, por mais que ela possa durar. Não importa se vamos durar 50, 70, 90 anos ou mais. Eu, por mim, como já disse algumas vezes aqui mesmo, estou para os 70. Não pretendo bater na porta dos 90, como um homem dependente dos outros, pouco sóbrio e um tanto debilitado. Não. 75 em diante, para mim, já seriam hora extra.

Independentemente de quanto eu durar, vou sempre viver com a certeza de que o tempo todo procurei ser útil alguém ou mesmo a algo (um evento, um fato, um projeto... qualquer coisa). Não há sensação melhor, ao menos para mim, do que a de sentir que a minha interferência melhora em alguma medida a vida de alguém, sobretudo, das minhas filhas, de meus familiares, meus amigos, meus alunos.

Alguém me objetará dizendo que o que se sente útil é máquina, não é gente. Para serem úteis é que se fazem robôs, por exemplo. Sim, esses mesmos que são úteis para tudo. Há até robô que dá aula no Japão. Uma máquina que supostamente até dialoga com os alunos, dando a impressão de ser viva. Uma das coisas que ela faz é medir a postura do aluno e corrigir seu modo de sentar-se. Ela também percebe se seu olhar está direcionado para onde deve. E, no mais, quanto à "transmissão" de conhecimento, aí é até covardia, ela tem um banco de dados invejável a qualquer de nós.

Quem assistiu ao filma "O homem bicentenário" - com o magistral Robbin Williams - vê como uma máquina se mostra útil e envolvida nos afazeres familiares. Tanto que ela acaba desenvolvendo afeições e sentimentos pelos familiares. Isto é, a máquina vai se humanizando - aliás, seguindo o processo inverso ao nosso, que muitas vezes vamos nos reificando, vamos virando coisas, máquinas de fazer: mecanicamente úteis. Não é essa a dimensão do ser útil que me encanta. Nem hoje nem quando eu estiver com os meus 70 e.

domingo, 6 de julho de 2014

Estragado




Um dia tão ensolarado fez hoje. Igualzinho ao de ontem. Fazia tempo que eu não presenciava um final de semana tão repleto de sol como este. O dia todo, dos dois dias, muito claro e quente. Dia para aproveitar e fazer coisas de que se gosta muito. Ou para fazer coisas de que ainda vai se passar a gostar. Coisas novas, lugares novos, restaurantes novos, leituras novas e assim por diante. Foi este último que escolhi: fazer coisas novas, das quais ainda vou gostar.

Empolgado com uma linha de raciocínio que vinha desenvolvendo em torno de um proposta de fotografia que eu estava elaborando no Sesc, curtia cada foto tirada. Até cheguei a postar duas - que hoje, parece febre, a gente quer postar tudo. Me preparava para concretizar a ideia da terceira. A linha mestra era explorar lados opostos: o real e o fictício, paisagem natural e paisagem urbana. A terceira, um pouquinho antes do click, não pôde sair. Fora interrompida por um estrondo gigantesco que se seguiu a uma freada brusca e assustadora. Era o oposto da tranquilidade se fazendo presente.

Todo mundo levantou para ver e era bem na esquina onde eu havia estacionado meu carro minutos antes. Uns bons minutos antes. Havia sido um violento choque entre um automóvel desses de passeio e uma motocicleta. Diferentemente da maioria, não sou de apreciar desgraça alheia. Então não me dirigi ao lugar, só vi que uma multidão se aglomerava no local do acidente. Duas vidas legais e alegres com o domingo absolutamente ensolarado viram tudo escurecer em fração de segundo. Pronto: estava estragado o domingo, o fim de semana, a semana que vem, o mês de férias e sabe-lá-Deus mais o quê.

Estragou-se tudo: o carro, a moto, o trânsito; os condutores, seus planos, suas vidas. Tudo, numa fração de segundo, se transformou para aquelas pessoas. Alguém passou o farol vermelho? Alguém falava ao celular? Alguém... alguém... alguém... bastou um nada para tudo vir a baixo. Para o desespero colorir de vermelho o dia dourado de sol. Tantos cliques de foto pretendiam tirar com suas respectivas famílias, com seus amigos. Tanta coisa boa estragada ali naquela átimo de tempo. Esperei um tempo. Vi resgates chegando e controlando tudo. Deixei minhas ideias de foto para outro dia. 

sábado, 5 de julho de 2014

Medidas



Do que se mede um homem? Do que um homem é medido? Me vi algumas vezes em discussões ríspidas - o que é absolutamente raro na minha vida inteira - utilizando uma expressão mais ou menos como: "você está usando, para me medir, a mesma régua que usa para se medir. Mas eu não sou você". Triste. A situação, o sentimento que ela evoca e tudo o mais. Mas o que me interessa aqui e agora é o parâmetro que usamos para nos medir, para medir os outros e vice-versa.

Algum ser vai dizer que alguém se mede por aquilo que diz ou escreve, e que pessoas que sustentam um blog - como eu mesmo o faço - imaginam-se medidas pelo conteúdo do que expressam. No meu caso, isso ainda se agrava ou se intensifica, porque tenho o prazer (e a imensa responsabilidade) de ser professor e, portanto, de ser formador de opinião, de conhecimento de mundo. Entretanto, esta não é uma régua fiel, dado que as palavras não são, necessariamente, a pessoa que escreve ou fala.

Outro pode imaginar que alguém deva ser medido por aquilo que tem. E vejo à minha volta muitas pessoas que fazem questão de ostentar seus pertences, porque assim pensam: "meçam-me pelo que tenho". Isso me lembra sempre a situação de um rapaz que ostentava um pesado e brilhante Rolex no braço. Teve o azar de eu estar sem relógio (meu relógio comum) e precisar saber as horas. Fiquei perplexo com a resposta que me deu quando lhe pedi as horas: "não sei olhar as horas, professor, eu só quero mostrar meu relógio. Olha que legal?". 

Vai ter gente pra dizer que uma pessoa se mede pelo que ela faz ou deixa de fazer. Não sei também se as ações são a melhor régua. Há coisas que são feitas impensadamente. Há coisas que são feitas obrigatoriamente (por força de contrato, por exemplo). Há coisas que, sendo más, se tornam necessárias em determinadas situações. Enfim: a complexidade é tão grande, que o caminho restante é apenas o de não medir. Somos e estamos. O quanto é outra história - que não sei medir.

sexta-feira, 4 de julho de 2014

Nossa coluna




Não. Nem de longe vale a comparação. Chega a ser mesquinha, mas vou dizer. Já faz alguns anos que convivo com uma dor infernal, sobretudo em épocas de crise. Tenho três hérnias lombares, uma delas fica justamente naquela que Neymar teve fraturada hoje: a terceira. Um bando de gente insensível tem a capacidade de dizer que é frescura quando a gente se contorce em dor, quando fisgadas inesperadas fazem o corpo da gente reagir num espasmo incontrolável. Em público, a gente consegue controlar para não gritar de dor. Mas dói. Como dói.

Dói mais ainda o fato de essa dor ser limitadora. A gente não vive mais como pessoa normal. Não chegamos a ser anormais, mas tem uma série de limitações, sobretudo de movimentos, em primeiro lugar; e também de certas ações, certas brincadeiras, certos jogos em que o contato é grande ou em que há movimentos de entorce ou de viradas bruscas ou ainda de impactos fortes. E não nos resta outra coisa, senão nos conformar.

Às vezes, a perda é pequena. Hoje, por exemplo, jogo menos futebol do que gostaria. Escalo menos pedras do que gostaria quando estou em praias, Pulo menos de escuna do que eu gostaria. No final do ano passado, fiz isso aos montes, sabendo dos riscos que ia correr. Corri. E não deu outra. Era 30 de dezembro quando cheguei em casa. Passei o dia 31 e o dia 1º praticamente colado em minha cama, sob dores que medicamento algum conseguia eliminar.

Outras vezes, a perda é grande. Neymar acaba de sofrer uma pancada forte justamente sobre a terceira vértebra de sua coluna lombar. Via-se a dor estampada em seu rosto. Saiu do estádio diretamente para o hospital. E de lá veio a notícia de que, para ele, a Copa havia acabado, uma vez que a pancada tinha resultado em uma fratura daquela vértebra. No mínimo dois meses para se recuperar. Às vezes pequenos sonhos acabam. Outras, grandes. Tudo está na coluna e depende dela.

quinta-feira, 3 de julho de 2014

Probabilidade zero?



Ontem eu falei aqui sobre a segurança que temos, mesmo quando estamos caindo sem nada enxergar e sem saber a hora do impacto do final da queda. Me referia à queda através de um tobogã que me levava a uma piscina de água acolhedora e quente. A probabilidade de eu cair naquela água era, sem trocadilho, líquida e certa. 100% de certeza de que eu cairia ali.

É muito bom contar com a certeza, pois isso nos dá segurança plena, sobretudo, pelo fato de haver a probabilidade de ocorrer um final diferente tende a zero. No entanto, é preciso lembrar que o "tende a zero" não significa "zero". Foi exatamente o que aconteceu hoje em Belo Horizonte, quando no meio da tarde, com trânsito fluindo naturalmente, um viaduto despencou. Toda a sua estrutura de concreto veio a baixo. Toneladas esmagaram dois caminhões, um ônibus e um carro normal.

Mortes, claro. E muitos feridos. Entre todos esses, com toda a certeza, uma pergunta ecoava: qual era a chance, qual era a probabilidade de eu ser atingido por um viaduto? É absolutamente improvável que alguém julgasse que a probabilidade tendia a zero e, por essa razão, se recusasse a passar sob o viaduto, achando que a qualquer hora ele pudesse ruir e destruir automóveis e vidas.

Quando a tendência a zero se torna maior todas as demais 9 dezenas de possibilidades, certamente há fatores que se tornam determinantes. Esses fatores podem ser de ordem natural, isto é, o solo pode ceder ao peso e desestabilizar toda a estrutura. Pode haver também fatores de ordem humana, quer dizer, alguém que tenha falhado no cálculo, seja na fase de planejamento, seja na fase de execução. Isso pouco importa para os que morreram naquele acidente, mas não para os que ainda creem em probabilidade zero. 

quarta-feira, 2 de julho de 2014

In - sanidade



Uma das experiências mais desafiadoras que presenciei foi enfrentar o imenso tobogã do Beach Park, em Fortaleza, há alguns anos. Fomos de São Paulo para lá, lógico, para conhecer tudo que Fortaleza naquele sempre ensolarado tempo. E é linda mesmo... pelo menos nas partes destinadas aos turistas, porque, a certa altura eu me perdi dirigindo (novidadeeeee!!) e o que vi... não era para turista ver. O Beach Park era uma atração imperdível, e dele nós queríamos o Insano.

Como as meninas era pequenininhas à época, não poderiam ir. Eu, gostaria e muito. Mas, porém, contudo, todavia, quando cheguei debaixo do dito cujo e olhei pra cima, minha memória começou a funcionar como sinal de alerta: são mais de 40 metros de altura; é uma queda de 5 segundos; e o corpo atinge 105 km por hora. Como se não bastassem essas lembranças, logo me veio à mente o fato de que tenho três persistentes hérnias lombares. Não tive dúvidas: usei minha sanidade e não subi no Insano.

Fomos a todos os outros tobogãs de lá. Até metade da altura do Insano a gente estava topando. E eram divertidos, porque ainda que não quiséssemos, víamo-nos cercados e inevitavelmente em queda. Havia um que era totalmente fechado e totalmente escuro (óbvio!!). Quem descia antes de nós, descia berrando e, para nos divertir e espantar um pouco do frio da barriga, gritávamos também. O divertido era o que escolhíamos para gritar.

Mas estávamos assim relaxados diante de uma queda no escuro porque sabíamos onde íamos parar. Sabíamos que o caminho, apesar de um pouco assustador e sem luminosidade alguma, conduzia para um ponto único. E, por certo, um ponto muito agradável: naquele calorão insano, despencávamos numa piscina de temperatura super convidativa. É assim, às vezes, na vida: parecemos estar cegos e escorregando a todo vapor, mas com a certeza de que vamos chegar a um bom lugar.