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sexta-feira, 30 de maio de 2014

Replanejar



Sempre me chamou muito a atenção uma cena do filme "FormiguinhaZ", logo no seu início, quando uma fila imensa de formigas vem carregando, cada uma, um pedaço enorme de folha para sua "casa" e, como formigas operárias, executam este papel com grande maestria, desde que nada lhes tire a regularidade do ato. Pois a certa altura da trajetória delas, bem no meio da fila, despenca uma folha grande - bem maior que elas - e separa uma parte da outra da fila. A que ficou para trás se desespera, não sabe o que fazer. É preciso vir uma outra formiga, mais experiente e lhe ensinar como superar aquele problema e retoma a rota.

Usei esta alegoria hoje para ensinar aos meus alunos a importância de três movimentos na vida. O mais importante é o movimento de ir, de estar em uma trajetória que acreditamos ser a melhor. Se mais rápido, se mais devagar, é outra história. Mas é preciso estar indo. O segundo é anterior a este: é o de planejar aonde ir, de modo que se possa dar passos direcionados, firmes, seguros, conscientes. O terceiro é posterior a esses dois: é o de replanejar. É reconhecer que algo está impedindo a caminhada em direção ao objetivo.

É dífícil para adultos e também o é para adolescentes. E, para estes, muito mais. Com toda certeza. Em sua maioria, interna e inconscientemente, às vezes por falta de orientação, acreditam como canta Zeca Pagodinho: "deixa a vida me levar, vida leva eu". E cantando assim, põe-se como folha ao vento que vai para onde o vento for e caem quando o vento parar de soprar.

Dessa maneira, seguindo a esmo, pulverizando energia, em geral, em busca de prazeres pessoais, ora intensos, ora não, seguem hedonisticamente na busca da satisfação imediata. E nisso vão se especializando. Entretanto, têm dificuldade em vislumbrar ao longe um caminho e até de perceber se estão na rota ou fora dela. Não identificam se o que se interpõe a eles é obstáculo ou oportunidade. E seguem, como o José, de Drummond: "José, para onde?"

quinta-feira, 29 de maio de 2014

Ser avaliado



Muita, muita gente treme quando toma consciência de que vai passar por alguma avaliação. Minha referência mais imediata é a realidade da escola. Ali um enorme grupo de alunos e alunas ficam extremamente preocupados quando é período de provas. Hei de convir, porque vida de aluno não é mesmo fácil, pois há momentos em que tem de encarar 10 avaliações ou mais em sequência. Muito embora eu concorde que não seja fácil, não me vem sentimento algum de pena ou algo que o valha: ser avaliado é parte do processo normal de ser aluno.

A vida dos alunos tem uma continuidade direta com o nível superior. Só que nem tão direta assim, porque precisam passar pelos exames vestibulares das respectivas faculdades que desejarem. Daí, o outro terror: Fuvest, Unicamp, Enem e uma série de outros momentos de avaliação de grande escala também apavoram os adolescentes. Ainda mais esses que integram uma geração que aprendeu a receber "sim" para tudo. Que não sabe lidar com frustrações. Para estes, tais exames não são nem desejáveis - justamente pelo alta possibilidade de reprovação. Reprovação em avaliações é parte do processo de ser vestibulando.

E será assim na continuidade da vida na universidade, independentemente da faculdade que tiver sido escolhida. Vai ter de passar por provas escritas, por provas orais, individuais, coletivas, por TCC. Em outros níveis, vai enfrentar Defesas de mestrado, doutorado... E, se não seguir a carreira acadêmica, vai fazer exames de admissão em empresas. E, uma vez admitido, vai passar por avaliações internas nas quais tem de provar que merece a vaga que ocupa. Ser avaliado é parte do fato de se trabalhar.

Mas essas são partes de avaliações institucionais. O que pega mesmo é quando a própria vida nos coloca avaliações. E ela o faz constantemente. O bom filho, o bom irmão, o bom amigo, o bom namorado, o bom noivo, o bom marido, o bom pai... e por aí adiante. O boa gente. Não para os outros. Mas para a si mesmo. Porque tem isso: muitas vezes o sujeito é aprovado em tudo que faz, mas não aprova a si mesmo. Aprovar-se ou reprovar-se é parte do ato de ser.

quarta-feira, 28 de maio de 2014

Planejar aos 14?




Quando eu tinha 14 anos, embora eu já trabalhasse durante o dia e estudasse durante a noite, não era assim uma pessoa que planejasse direitinho minhas ações presentes, meus desejos a médio prazo e nem meu futuro mais distante. Naturalmente, àquela época já me faltava tempo para pensar direito. Mas isso não foi ruim, porque fui aprendendo a fazer as coisas com uma certa urgência e com um baixo grau de insucesso. Eu não tinha orientação, mal ficava em casa para que minha mãe me orientasse; e, por outro lado, já não via meu pai havia 10 anos.

Hoje, 31 anos depois, entendi a importância de planejar qualquer que seja a ação: desde uma conversa simples até uma compra grande. Então hoje é minha obrigação ter um mínimo de planejamento para minhas ações, sejam elas quais forem, sobretudo, porque, já tendo corrido um pouco desta estrada chamada Vida, tenho condições de saber onde algumas coisas vão dar. Evidentemente não significa que isso ocorra sempre, porque muitas vezes, o menino de 14 quer vir à tona e vem.

Mas eu tenho alunos de 13, de 14 anos. E como gosto de trabalhar com eles. A cada ano, uma novidade. Novos problemas, novas conquistas. Todo início de semana, toda santa segunda-feira (Garfield me odiaria) eu lhes aviso que dia é, quanto já passou do mês, do ano, e quanto falta para esta ou aquela avaliação. E o faço para verem a brevidade, a fugacidade, a rapidez com que o tempo passa por cada um de nós. Engana-se quem pensa que isso é suficiente.

Faltando praticamente duas semanas para encerramos o primeiro semestre letivo e, portanto, fazemos os trabalhos e as provas mais decisivas, retomei com eles o assunto. Parece que hoje, no meio do ano, eles estão começando a entender que, sem planejamento, vão ficando à mercê dos acontecimentos da vida. Só que a vida passa. E tudo que se tem é passado. O presente nunca é. O futuro também não. Vamos vivendo o resultado de nossas ações passadas. No lugar deles, há 31 anos, eu teria ouvido isso?

terça-feira, 27 de maio de 2014

O eterno agora



Teve um tempo em que eu acreditei na eternidade das coisas, dos sentimentos, das crenças, da vida. Até das pessoas. Estou com quase 46 e sei que a eternidade já é. O tempo de vida aqui já é tempo de vida. Se depois que mudarmos de estágio formos para outra vida e abandonarmos covardemente nossos corpos aqui, bem. Se não, isto é, se morrermos com nossos corpos, bem, também.

O importante é que tenhamos vivido bons momentos nisso que constituímos nossa eternidade. Sim, porque, como Vinícius acreditava que o amor seria eterno enquanto durasse, também estou assumindo que somos eternos enquanto duramos: nossos corpos, nosso espírito (se o espírito for distinto do corpo), nossos sentimentos (e o que sentem por nós), nossos feitos. Nós. Desatados nós.

A alegria que me toma hoje, seja por ter acabado de tocar e cantar com minha filha - o que pra mim é a própria vida acontecendo; ou seja porque tive uma longa e absolutamente agradável com minha outra filha; ou seja, ainda, por ter tido o prazer de ver um aluno realmente aprendendo comigo e ficando feliz por isso; seja, por fim, por nossa banda estar preparando um set list para tocar, enfim, essas pequenas porções de vida dão sentido à minha eternidade.

Em breve passarei, como tudo passará, como todos passarão, mas essas pequenas alegrias põem um brilho tão límpido nos olhos; vestem o rosto com um sorriso tão existencial; dão ao coração um ritmo tão vital, que me dão a impressão mais do que nítida de que a eternidade se vive agora. Até onde ela vai não sei, mas é possível adiantar que não é mais agradável do que esses respiros de viver.

segunda-feira, 26 de maio de 2014

Nota de 3 reais



Em minhas aulas da disciplina de Pedagogia, tanto na graduação em Letras quando na pós-graduação em história da língua, sempre aprendi o legado de Waloon, Vigostky, Dewey, Piaget e outros. Em relação a este último, lembro bem das fases de aprendizagem a que ele se refere. Uma das fases mais complexas é a da abstração, que será atingida ali por volta dos 11 anos. Às vezes, com muito mais idade do que isso, falta abstração a muita gente.

São conhecidas as histórias de funcionários mais velhos que enganam os novos recém-contratados, submetendo-os a situações tão absurdas, quanto inacreditáveis. No entanto, por serem novos, não entenderem a dinâmica, respeitarem os mais velhos e acreditarem que determinada proposta seja algo sério no contexto da nova empresa, eles acabam querendo acatar.

E são tão caricaturais as coisas mandadas pelos mais velhos, que chega a ser engraçado. Quem de nós não presenciou alguém mandando outra pessoa enxugar gelo. Ou ainda uma pessoa mandando outra chupar gelo seco? Quem de nós não presenciou uma pessoa mandando um office-boy comprar tinta xadrez? Ou tirar xerox frente e verso de sulfite completamente branco? Trocar 15 reais em notas de 3. E tantos outros.

Já aconteceu de eu estar dando devolutiva de prova em aula, e ter comentado os resultados positivos, bem como os negativos. Em função deste último quis elaborar uma estratégia para superar os erros para a próxima avaliação que seria dali a 20 dias. Mas visando a uma figura de linguagem, disse que "agora vocês têm a próxima prova, em que...". Nem bem terminei de falar e um garoto já me interrompeu desesperado porque não havia se preparado para a prova naquele exato momento. (...) (...). Evoquei Piaget.

domingo, 25 de maio de 2014

Se é do gosto...



Tive de resolver uma série de coisas hoje. Coisas urgentes que precisavam ser feitas neste dia - a única alternativa que me restou, dadas as ocupações que me tomam o dia todo de todos os dias. Um domingo chuvoso e frio, como chuvosos e frios eram normalmente os dias desta cidade a que cheguei há 38 anos. Naquela época, muito mais que hoje, justificava-se para São Paulo o título de Terra da Garoa.

Pois o frio de hoje era intensificado pela a água que São Pedro mandava. Não era muita, mas o suficiente para precisar se proteger. No trecho das coisas que resolvi a pé pude perceber que, como é comum em todo domingo, havia ciclistas na ciclovia. Até aí nenhuma anormalidade, exceto a do fato de pedalarem tranquilamente sob chuva. E sob frio. E de calção e camiseta. Pensei comigo: Se é do gosto, regalo da vida.

Em outro trecho, no qual eu precisava me valer do metrô - que aliás andou turbulento nesses últimos dias - outra cena que me marcou neste dia. Ao descer a escadaria, passei por uma pessoa que fazia questão de ser notada. Seja pela roupa utilizada, seja pela dificuldade de se definida em seu gênero, seja - ainda mais - pelo perfume que utilizava: forte, mas forte, fortíssimo mesmo. A metros dela já se podia sentir. Quando estava bem ao seu lado, o nariz reclamava. Pensei comigo: se é do gosto dela, que seja feliz assim.

Naturalmente, quando já havia me distanciado dos empolgados ciclistas e da pessoa exalante, fechado no interior dos vagões e sob a terra, fiquei pensando em gente ultraocupada. O que eles diriam de um sujeito que trabalha de segunda a segunda, algo entre 18 e 20 horas por dia? Estranhariam, com certeza - afinal, quem trabalha tudo isso não pedala nem anda exalando fortes fragrâncias aos domingos de manhã. Será que perguntariam se viver assim é produto do gosto?

sábado, 24 de maio de 2014

Dormir tarde



A sociedade moderna está se encaminhando para um ponto em que se torna cada vez menos comum o número de pessoas que conseguem se desvencilhar de suas obrigações profissionais a tempo de manter uma vida saudável, no que diz respeito às atividades físicas, acadêmicas, profissionais; à alimentação e, entre tantas outras coisas, ao sono.

Um estudo divulgado recentemente (http://bit.ly/1py4jll) e publicado na revista Superinteressante dá conta de que as pessoas de QI um pouco mais elevado e, por isso mesmo, consideradas mais inteligentes costumam dormir mais tarde frequentemente. Segundo o estudo, essas pessoas dormem por volta das 2h da manhã. São várias as razões que o estudo aponta para justificar o comportamento dessas pessoas. Naturalmente não se está dizendo que seja inferior a inteligência dos que dormem cedo.

É claro que há um outro grupo grande de pessoas que dormem frequentemente tarde, mas não porque estejam estudando ou porque tenham muitas responsabilidades acadêmicas e profissionais a desempenhar,m as porque têm um organismo habituado a dormir pouco. Por essa razão, aproveitam o tempo de sono tardio para se manterem produtivas - produtivas ao menos para o que elas mesmas consideram como tal.

E há os que dormem tarde não por terem QI elevado ou porque seu organismo ter este ou aquele metabolismo. Fazem isso apenas pelo fato de gostarem e de não precisarem acordar muito cedo no dia seguinte. Gostam e ponto. Conseguirem fazer o que gostam é sinal de inteligência. Do mesmo modo, é sinal de inteligência conseguir dar conta de todas as responsabilidades. O fato é que dormir está ligado ao aprimoramento da inteligência. O que não pode acontecer é a gente não conseguir ac

sexta-feira, 23 de maio de 2014

Vergonha própria e alheia




Dizem que salão onde as mulheres se enfeitam (cabelos, unhas de pés e mãos, depilações etc.) são a expressão acabada de lugar voltado para o falatório vão, para a fofoca, para a vergonha própria ou alheia. O almoço de hoje colocou isso em dúvida, pois o que foi colocado naquela mesa é de fazer corar qualquer cidadão que se considera de bons modos e, de alguma forma, com algum recato.

Por alguma razão, que as incessantes risadas se incumbiram de fazer esquecer, o assunto na mesa do almoço descambou, como cimento de caçamba, sobre a mesa de onde estávamos. Mal conseguimos acabar de comer. E, como minha turma adora trocadilhos e quaisquer outros recursos que detonem risadas descontroladas, um assunto foi puxando outro. Tudo sobre o mesmo tema. Ou local.

Um puxou o assunto de exames de sangue e não se envergonhou em dizer que nas primeiras vezes em que tinha de colher sangue, entrava em colapso. Desmaiava. Daí a a gente chamar o cara de... deixa pra lá. Não custou muito. Outro me veio com a vergonhosa situação de estar tão nervoso com a entrega do exame de fezes que precisava fazer, tão nervoso, que ao tirar o potinho da mochila, deixou-o cair. Imagine se o rapaz havia fechado direito o recipiente...

Sem pestanejar outro veio contar que chegou todo educado, cheio de pudores, pisando em ovos, para dizer que precisava fazer espermograma. Meio surda a atendente fez ele repetir umas 3 vezes. O cara, morto de vexame quase foi embora. Mas piorou. Se pudesse, diria que piorou mais ainda. Quando ele foi realizar os "procedimentos" e entregar o maldito potinho para a moça, teve de vê-la levantar o potinho, olhar contra a luz e, depois, olhar para ele, fazer um silêncio e dizer: "senhor, isso é muito pouco. Dá pra ser mais?". Daí não deu foi pra nós. Só se via neguinho engasgando de tanto rir na mesa.

quinta-feira, 22 de maio de 2014

Como se troca de sapatos



É conhecido o ditado segundo o qual não se troca de trabalho como se troca de sapatos. O mesmo pode ser dito de outras situações: não se troca de religião, de time, de mulher, de casa... como se troca de sapatos. Naturalmente o sentido dessa já sedimentada expressão popular é o de que existe em cada uma dessas possibilidades um conjunto de implicações de dimensões bem maiores do que as de uma simples troca. Quais são os critérios para se fazer uma troca?

Tal como acontece com uma leitura agradável, em que retardamos o fim justamente para não vê-la acabar. Tal como acontece com um prato suculento cujos ingredientes mais gostosos deixamos para o final, justamente para não saboreá-los mais tardiamente. Assim também acontece com sapatos que deixamos para usar em situações comuns, apenas para ter o gosto de usá-los em momento posterior no qual se pode desfrutar de todo o bem-estar que ele causa.

Muitas vezes, nossos sapatos são tão usados, mas tão usados, que passamos a receber comentários no sentido de que parece termos apenas aquele par. Comentários de muito mau gosto, por sinal, porque ninguém tem a ver com o que usamos ou deixamos de usar - desde que, é claro, o referido uso não ofenda algo ou alguém. Mas independentemente disso, continuamos a dar aos pés o prazer de se sentirem calçados por aqueles sapatos que trazem tanto conforto.

Mas há momentos em que os comentários deixam de ser dos outros e passam a ser nossos. Desse modo, não são mais "parece que você só tem esse par de sapatos". Conscientemente passam a ser "parece que eu só tenho este par de sapatos". Daí a dúvida entre se desfazer deles para calçar novos ou manter a ligação "afetiva" apesar da incapacidade de ele não cumprir mais aquilo a que se destina na nossa vida. A própria pergunta inicial volta espelhada: troca-se de sapatos como se troca de religião, de time, de mulher, de casa...? É preciso saber o critério para a troca de coisas e pessoas.



quarta-feira, 21 de maio de 2014

Como pode?




A revista Veja desta semana trouxe uma reportagem, não sei mais se na revista principal ou se na vejinha SP, a respeito do assustador aumento da frequência de crianças em consultórios para acompanhamento psicológico e psiquiátrico. Crianças que sofrem de verdade e que precisam de acompanhamento de um profissional competente, capaz de ajudá-la a se tornar uma pessoa forte e feliz? Ou crianças que precisam de pais presentes, respeitosos e responsáveis?

É fato que hoje a nossa sociedade está organizada de uma forma que ainda nos parece caótica. Uma forma de se viver que, ao invés de juntar a família, faz é separá-la. Um modo que leva o homem a trabalhar ainda mais, sobretudo, se for competente para exercer diversas ações. Assim acaba trabalhando por dois ou três. Por sua vez, depois que as mulheres também começaram a trabalhar (seja por necessidade socioeconômica, pessoal ou de qualquer natureza), vem se intensificando cada vez mais.

Dessa forma, cria-se uma relação esquisita, estranha mesmo. Nem o marido tem o tempo suficiente para dedicar à mulher, à família em geral. Nem a mulher tem o tempo suficiente para dedicar ao marido e à família em geral. Ambos não têm o tempo necessário para dedicar aos filhos. Logo, logo, se separam, porque a vida em família se torna difícil e beira ao suportável. Aí entra o papel dos diversos profissionais, como os psicólogos e psiquiatras. Daí entra também o papel da escola.

Tenho contato com muitas escolas. Em palestra em uma delas, fora de SP, abordei o tema que tinha sido objeto de uma entrevista minha. Pois foi justamente nessa situação que ouvi o relato de uma mãe publicamente. Mãe de uma criança de 6 anos. Ela dizia não saber mais o que fazer. Separada, via seu filho a cada dia mais triste e, mesmo com acompanhamento psicológico e psiquiátrico, o garoto já fala seriamente na possibilidade de acabar com a própria vida. Que mundo é esse? Como pode?

terça-feira, 20 de maio de 2014

A última volta



A propaganda da Red Bull veiculada já há tanto tempo na televisão tem como slogan "Red Bull te dá asas". Acho bem interessante tanto os filmes publicitários quanto o fato de serem concluídos com essa criativa frase. Realmente é importante que tenhamos algo que nos dê asas para continuarmos nossa trajetória, com as asas no ar ou com os pés no chão. O importante é seguir. E seguir atento até o fim para vencer.

Há momentos na vida em que um slogan como esse precisa ser repetido quase à exaustão. Naturalmente para muitas pessoas o produto em si pode não ser objeto de consumo, mas algo, qualquer que seja o algo precisa estar antes do "...te dá asas". Se eu, por exemplo, depender do Red Bull para criar asas e ir mais longe, terei dificuldades, porque no meu organismo ele não faz muita diferença. Até gosto do sabor, mas o efeito é pouco eficaz para meu metabolismo.

A volta final de uma corrida de Fórmula1, na qual milésimos de segundo são absolutamente importantes, é de extremada importância, pois qualquer deslize (literal ou não) pode ser fatal, para a corrida em si e, às vezes, até para o piloto. É o momento em que a atenção precisa estar redobrada, pois a tendência do organismo é justamente a de relaxar diante do fato de estar a poucos metros da vitória.

Eis aí algo para a vida também: sempre que a vitória se apresentar para o potencial vencedor, será preciso ter o firme propósito de cruzar a linha de chegada e, em vez de se encantar com o canto da sereia, ou de cantar vitória antes do tempo, manter os olhos fixos no alvo, os ouvidos atentos à conquista, os braços e pernas sincronizados nos movimentos ritmados dos passos largos para vencer.

segunda-feira, 19 de maio de 2014

Bronca em chinês



Curioso como algumas coisas são tão iguais, mesmo em situações bastante diferentes. Na minha profissão, tenho o privilégio de atender muitos alunos e, por conseguinte, suas famílias. Em todos os casos, o modo como os pais se relacionam com os filhos durante o atendimento guarda uma série de similaridades que fazem a gente aprender sobre o trato com os filhos numa situação dessas.

Existem os pais que sempre se surpreendem com o mau rendimento de seus filhos. Em geral, associado a um comportamento que não condiria mesmo com um esperado bom rendimento. Seria até incoerente. Os filhos, por sua vez, vão aprendendo aos poucos a lei do mínimo esforço. Daí para se fazer o mínimo do mínimo esforço é um pulo de gato. Só que muitas vezes, quase invariavelmente, nem isso conseguem. Aí chovem disciplinas em recuperação.

Lembro-me de quando atendi uma família de chineses, há uns dois anos. A mãe talvez não domine 15 palavras em Português para aquela situação. Vieram com um um intérprete. Não fosse ele, a comunicação sequer viria à luz. E foi assim a reunião toda. Quase uma hora. Ao final, quando dava as orientações de estudo ao garoto e disse que tudo o que ele precisava estava (ou deveria) em suas anotações, a mãe quis saber do garoto sobre as tais anotações.

Aí, o que não era surpresa para mim, ela descobriu que o garoto não tinha as anotações. Não sei o que ela falou. Mas falou. Falou e falou. As veias saltadas em seu pescoço e em suas têmporas, bem como o fuzilamento do olhar me davam toda a impressão de que não era algo amistoso, nem eram expressões de carinho. Claro, dentro do recato oriental. Mas independentemente do chinês, mandarim ou seja lá a língua que for, a bronca é a mesma.

domingo, 18 de maio de 2014

Represados




Aqui em São Paulo infelizmente nós já estamos acostumados com as notícias sobre falta de água. A represa que abastece a região onde moramos está com seu reservatório reduzido a 8%. Qualquer cidadão entraria em pânico ao saber de uma notícia dessas. E surtaria se tomasse conhecimento de que os encanamentos subterrâneos, velhos e mal cuidados, justamente por estarem assim, desperdiçam mais e 1 bilhão e litros de água - como já destacamos aqui mesmo no Sempreever.

Hoje, uma mudança impressionante no clima em geral. O sol que aqueceu, e muito, a temperatura pela manhã era o prenúncio do que viria a ser o final da tarde. Enquanto eu passava pelo caixa no mercado, percebi que tinha dificuldade para ouvir a moça que me atendia. Pensei que era o fone em um de meus ouvidos. Não era. Quando lhe disse que o barulho do ar condicionado estava alto demais, ela apenas apontou para cima e disse que era chuva no telhado.

Fiquei impressionado em razão do barulho intenso no telhado. Paguei minha conta e fui para a entrada para verificar a intensidade da chuva. Mal se via para fora o mercado, dada a intensidade da chuva, que vinha acompanhada de muito granizo. Ruas e calçadas não só escureceram precocemente, como também ficaram forradas de granizo, brancas, tanto que, de longe parecia haver nevado. Tornou-se perigoso dirigir naquela situação. Voar também, pois os aeroportos ficaram fechados e sem energia.

Repentinas assim como a chuva e hoje, algumas mudanças chegam para nós e, sem pedir licença, passam a integrar a nossa rotina. Entre surpresos e inertes, lutamos para nos reacomodar. Outras requerem de nós uma adaptação lenta, por vezes dolorosa até se ajustar (ou ser ajustada). Situações há que se repetem tais e quais, desde que tiveram origem. E, como elas, assumimos padrões de comportamentos repetitivos que impedem que, nós mesmos, mudemos. Ficamos represados.

sábado, 17 de maio de 2014

Ex-jardim



Um dia teve orvalho que banhava cada pétala de rosa colorida a rescender os mais puros aromas. Fragrâncias de existência passeavam por ali. Um monte de rosas enfileiradas em posição aleatória ao sabor do vento. Sob elas dançavam sombras contentes, sombras felizes por serem sombras de um movimento da vida que brotava a cada dia, bebendo a seiva e corando-se ao sol. Um belo jardim.

Um dia teve espinhos tão bem irrigados pela seiva interna e pelo orvalho externo que, embora não deixassem sua natureza  de espinho, não feriam como tais, não assustavam como tais, não rechaçavam o toque como tais, não arranhavam a mais tenra e macia pelo que com eles entrasse em contato. Eram espinhos que, como parte das rosas, serviam-lhes de adorno.

Um dia os ventos bateram menos do que costumavam e as rosas sentiram-se asfixiar e passaram a respirar ofegantes. Pouco tempo depois o sol passou a oscilar entre o calor escaldante e indiferença de uma tarde sem luz, embora não escura. Mais tarde um pouco, a seiva cansada não mais corria sob o jardim, e, quando o fazia, não mais beijava as raízes fazendo nascer-lhes sorrisos de gratidão.

Um dia as pétalas passaram a olhar para baixo; sua cor logo se confundia com a da terra, que, seca como o mais árido dos desertos, recebia incomodada o caule por cima e a raiz por baixo. Por sua vez os espinhos, fortes e cada vez mais pontiagudos feriam os pés que por eles passassem, assustavam os olhos que se atrevessem a mirá-los. As sombras já não dançavam por não contentes; o aroma não rescendia mais por não existente. Um dia foi jardim.

quinta-feira, 15 de maio de 2014

Surpresas boas



Tenho certeza de que a frase que vou dizer soa como absolutamente romântica, e quem me conhece sabe que não sou adepto do modo romântico de ver nem de interpretar a vida. Muito menos de viver. Mas, confesso, muitas coisas que digo e penso parecem ter um pezinho na cozinha do Romantismo. Esta é uma delas: as maiores coisas da vida parecem ser as menores.

Algumas lembranças e um fato me fizeram sustentar esse pensamento em boa parte do dia hoje, especialmente depois do período vespertino. Lembro sempre com muita gratidão de gestos simples e despretensiosos que, depois, bem depois, foram revelados gestos importantes. Certa vez, quando ainda tocava em banda de igreja, em pleno ensaio, cumprimentei de longe mas efusivamente um colega que havia chegado. Nada de mais. Nem de menos. Mas aquele cumprimento a distância e silencioso mudou a impressão de indiferença que aquele colega dizia sentir naquele ambiente.

Certa feita, nessas muitas em que levo ou busco minhas filhas das atividades que elas fazem para sua formação pessoal e estudantil, fui surpreendido com algo bom. Uma delas abriu sua mochila e tirou de lá um chocolate que ela sabe que eu aprecio. Antes que eu dissesse qualquer coisa, ela estendeu a mão e me disse que havia comprado pra mim. Senti-me como meu colega sentiu-se no que narrei acima. Um pequeno gesto dissipou uma imensidão de impressões.

Há uma menina que atendo no escritório, fazendo acompanhamento de seus estudos gerais e especificamente de Língua Portuguesa. O horário que nos foi comum era algo entre o almoço dela e o meu. Então, nos 15 minutos que antecedem nossa aula, sempre trago para ela iogurtes e cookies que toda pré-adolescente gosta. Hoje, para minha surpresa, ela veio com a mãe que, num gesto de gratidão, trouxe-me um bolo. Muito surpreso, agradeci bastante. Mal sabe ela o quanto gosto de bolo. Não no mundo ideal dos românticos, mas no dos realistas também há surpresas boas que interferem no modo de viver no mundo.

quarta-feira, 14 de maio de 2014

Absurdos cotidianos



Às vezes o dia a dia reserva pra gente umas visões que seriam o mais completo absurdo, se já não estivessem incorporando o conjunto de fatos, pensamentos e opiniões que integram o já entorpecido modo de ver o cotidiano. É por conta desse entorpecido sistema de apreensão da realidade que nossa capacidade de revolta ou nossa força de ação contrária se vê enfraquecida.

Há poucos dias citei aqui mesmo uma experiência na qual um psicólogo italiano simulou uma situação de infarto em que um homem de vestimentas normais precisou de muito tempo para ser atendido pelos muitos transeuntes; ao passo que no mesmo local um homem bem vestido e também simulando um infarto foi atendido imediatamente. Mais recentemente escrevi sobre extremos de violência em nosso país e fora dele, referindo-me à moça que foi linchada (por engano) e às meninas que foram sequestradas e vendidas a U$12.

Chegando em casa hoje, ao virar a última esquina, custei a acreditar no que vi. Era dia e uma das raríssimas vezes em que venho almoçar em casa. A pressa do meu pensamento concentrado em chegar, almoçar rápido e voltar para o trabalho, foi truncada por um carro estacionado embaixo de uma placa imensa que proibia não só estacionar como também parar naquele local. Mais, para que eu ficasse pasmado: sobre o carro jorrava uma água constante de uma mangueira que uma mulher segurava, enquanto o lavava com a maior tranquilidade, assoviando uma canção qualquer que não consegui distinguir.

Para onde vão nossos sentidos entorpecidos que se acostumam a ver absurdos cotidianos e, sem tempo de reagir, vão se tornando recrudescidos, empedernidos, a ponto de se tornar estéreis diante da possibilidade de intervenção? Às vezes tenho a sensação de estar vivenciando coisas que talvez fossem comuns há milênios. Outras vezes repito para mim o verso de Lenine: "E a loucura finge que isso tudo é normal. Eu finjo ter paciência".

terça-feira, 13 de maio de 2014

Soldado ferido

Prédio sul-coreano amanhece cinco vezes mais torto que Torre de Pisa

Na Coreia do Sul, um prédio amanheceu cinco vezes mais torto do que a Torre de Pisa. A obra ainda estava em construção e tinha previsão de entrega para daqui três meses. Não pude deixar de pensar sobre o nosso famoso verso de Vinícius: "Tem sempre um dia em que a casa cai". Não se sabe a causa, mas se sabe que se trata de uma das coisas mais curiosas já vistas. Vistas mesmo: turistas vão ver.

Para a surpresa de muita gente, construções muito sólidas, sedimentadas há anos, construções que por muito tempo foram ícones de segurança, de força e de indestrutibilidade, por uma ou por outra razão, natural ou não, se veem deslocadas de seu posto e ruem feito soldado ferido em guerra. Agora me vem à mente a queda das Torres Gêmeas nos EUA. Também o Muro de Berlim. Cidades inteiras destruídas por vendavais, terremotos, maremotos. Quem não se lembra do Titanic, tido como infalível?

Megaempresas de diversos setores, com capital excedente e altíssimos investimentos, subitamente passam a se ver em movimento descendente. Algumas se vendem a preço de nada para não serem plenamente extintas. Outra abrem falência e recebem seu "atestado de óbito" comercial. Minha infância era regada a propagandas de lojas como Mappin. Eu via propagandas constantes da Vasp. Atualmente, uma gigantesca empresa como a MF Global Holding (com ativos de 41 bilhões de dólares) e outras tantas não resistem à ação destrutiva e invariavelmente caem.

Muitos relacionamentos seguem o mesmo curso. Atingem um grau altíssimo de realização a ponto de serem admirados, de serem citados como exemplos de convívio a dois e... "de repente, não mais que de repente", assim, como o prédio na Coreia do Sul que citei no início, da noite para o dia, histórias futuras são vítimas da tecla DEL. Para citar Vinícius novamente, "tem sempre um dia em que a casa cai". Do mesmo modo que o prédio na Coreia, um relacionamento ruído atrai curiosos, gente que vem para ver prédio tombado, soldado ferido.

segunda-feira, 12 de maio de 2014

A parte do todo




Gosto de poemas. Eles são ótimos para refletir, para ler, para escrever, para perceber como a linguagem é capaz de coisas poderosas. Tomo aqui, como exemplo, um poema de Gregório de Mattos, que está entre os seus mais conhecidos. O poema trata da relação entre parte e todo. Tomando como base o corpo de Cristo pendurado na cruz, joga com as palavras "parte" e "todo", a fim de mostrar que o qualquer que seja o todo, ele só é completo na medida em que pode contar com as partes que o constituem.

Isso lembra a  Gestalt, parte da Psicologia que trata justamente das relações que existem entre a parte e o todo. Embora seja bem posterior ao citado poema de Gregório de Mattos, essa disciplina psicológica trata do mesmo tipo de reflexão e mostra como em nossa constituição as partes se relacionam. A relação enter as coisas é que faz de algo um todo. Como o cérebro procura constantemente enxergar algo inteiro, ele está sempre tentando ligar partes, a fim de que possamos enxergar algo que é ou parece ser um tudo.

Nas relações humanas, também me parece ser assim. Procuramos ver nelas algo inteiro. No âmbito profissional, a ação de um funcionário, que cumpre a função de um departamento, o qual, por sua vez, constitui um setor que integra o funcionamento geral de uma empresa, dá a ela a sua integralidade. Dessa forma, a ação de cada um não é nada isolada daquela que é a ação global da empresa. Há, pois, uma corresponsabilidade que constrói uma forma de identidade. É assim no âmbito profissional; também o é no mundo acadêmico; no mundo interpessoal.

Pergunto-me aqui como é que é isso no espaço do foro íntimo. No mundo pessoal, no interior das idiossincrasias, seria muitíssimo bom poder olhar para si mesmo e enxergar não só o todo que a pessoa imagina de si nem só o todo que imaginam dela, mas também as partes que fazem com que o todo seja de uma ou de outra forma. Assim, como um bom poeta, um bom psicólogo ou um bom presidente de empresa, as pessoas poderiam gerir cada bloquinho desse grande Lego que somos cada um de nós.


domingo, 11 de maio de 2014

Pare ser



É algo que incomoda muita gente hoje, ao mesmo tempo em que parece ser uma coisa que vai se tornando extremamente comum. Poucos são hoje os que conseguem ter o tempo necessário para resolver tudo que está sob sua responsabilidade, tanto do ponto de vista profissional quanto do acadêmico e pessoal. Já o número daqueles que estão empilhados em meio a uma grande quantidade de afazeres é cada vez maior.

Há momentos em que o desejo que tenta sussurrar nos ouvidos, momentos em que a vontade que fala para as sinapses, momentos em que a necessidade que clama desesperada ao coração, parece que vão ser ouvidos e que a tempestade em breve vai virar bonança. Parece que tudo vai se acalmar porque os constituintes da imensa pilha vão ser tornando menores. Mas, para desespero, o corpo já mais preparado, o espírito já mais calejado e alma já mais experiente acreditam que podem aguentar o que está por vir. Mais.

Isso se deve, talvez, a dois fatores espelhados. Um é o que aponta para o fato de que é proporcionalmente cada vez maior o número de execuções incompetentes das tarefas que são necessárias. Por outro lado, parece ser cada vez maior o excesso de carga atribuído àqueles que costumeiramente executam as tarefas com o devido zelo, qualidade e responsabilidade, dentro do tempo de que se dispõe.

Típico de um mundo cada vez mais competitivo, em que qualidade vem associada à eficácia, bem como à eficiência em relação ao tempo e à margem de erro quase inexistente, esse modo de existir vai sufocando muitos que veem diminuir sua relação com os outros e consigo mesmos em prol de uma satisfação que vem pelo fazer. Tanto que o fazer vai se parecendo mais com o ser.

sábado, 10 de maio de 2014

Cerumano



Outro dia postei no Facebook uma reportagem sobre um psicólogo que fez a experiência de colocar duas pessoas para simularem um infarto em praça pública e agonizarem diante dos passantes. Um trajando toupas normais. Outro trajando terno gravata e uma pasta do tipo 007. Enquanto aquele sofreu por quase vinte minutos até alguém para para lhe dar atenção, este último foi imediatamente atendido. Uma amiga comentou na página que "era preciso uma grande dose de indiferença para poder viver numa cidade como a  nossa".

Algumas coisas me chocam sempre que há situações extremadas. Isso porque eu me vejo um pouco como me disse a amiga: bebendo doses de indiferença. Mas nesses últimos dias os exemplos estão se proliferando por aqui e em outros países. Em vários pontos do Brasil, há pessoas cometendo atos de "justiça com as próprias mãos", prendendo e espancando outras pessoas que supostamente teriam cometido delitos. Não cabe aqui, ainda, o questionamento do Poder Público; apenas a dose de "cerumano" que brota de vez em quando.

Nesta semana fomos todos surpreendidos pela notícia do linchamento de uma mulher que teria sido confundida com outra. Graças ao (des)serviço de um jornal sensacionalista, que publicou um retrato falado de uma mulher que teria praticado rituais de magia negra sacrificando crianças, uma outra mulher, jovem mulher, foi espancada por mais de duas horas. Agredida, arrastada, humilhada, naturalmente não resistiu e, para fugir ao sofrimento, seu corpo dissociou-se da alma. Brutalidade de "cerumano".

Na Nigéria um acontecimento que me deixa fora de mim. Não consigo concatenar os pensamentos. Ou melhor: prefiro não dar prosseguimento a eles. Segundo a notícia, duzentas meninas (200), no pleno desenvolvimento de sua humanidade, foram sequestradas, afastadas de suas famílias e de seu cotidiano, para serem vendidas a líderes de tribos por algo como U$12. Desesperadas mães lá e inertes bilhões de pessoas ao redor do mundo, afogadas em doses de indiferença, tentam se recuperar de mais um gesto (típico) do animal "cerumano"