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terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Gratidão à vida



Daqui a 90 minutos, o ciclo 2013 estará fechado. Tantas coisas fizemos nesses 365 dias, que parecemos estar como um recipiente no qual nada mais cabe. É tanta coisa que, ao olharmos por cima do conteúdo de coisas feitas, já não enxergamos as que estão depositadas no final do continente.

Honestamente sei que o Universo tem sido extremamente favorável a mim, e mais do que a saúde pela qual todos primamos, Ele me tem dado inúmeras oportunidades de sorrir, de criar, de olhar a vida com leveza, com gratidão, com espírito aberto para oportunidades de experimentar ainda mais situações que despertam a sensação de felicidade.

A cada vez que vejo ou escuto minhas filhas sorrirem, eu sinto a magia da vida surgir de seus semblantes. Cada vez que converso com alguém, sou presenteado com toda sorte de vivacidade - até porque sei separar e reter o que é bom. Outra alegria sem fim é poder fechar o ano com quase 35 mil acessos a este blog, um espaço em que eu tento dialogar com este Universo, que me é tão generoso. A todos os que me deram o privilégio da leitura, muito obrigado. A este Universo maravilhoso, do qual cada leitor faz parte, muto obrigado.

De certezas também se vive



Estou voltando à escrita dos textos do SEMPREEVER hoje, depois de alguns dias de férias. Volto com uma certeza, o que pode ser bom ou ruim. Mas como sou daqueles que acreditam que as coisas não são boas ou ruins em si mesmas, procuro aproveitar o que de bom elas podem produzir.

"Fico com a pureza da resposta das crianças: é bonita, é bonita e é bonita" a certeza de que, nesta vida, o que importa é cultivar amizades, independentemente do grau que elas atingirem. A certeza de poder contar com um gesto amigo e de poder disponibilizar um gesto amigo é uma das poucas coisas que dão sentido a esta vida que, por vezes apagada, volta a receber o brilho de gente que sintetiza a própria existência.

Muitas vezes, uma palavra. Outras vezes, mais palavras. Em algumas situações a presença física; em outras, o chamado "apoio moral". Para alguns momentos, o prazer de trazer boas novas e de ouvi-las; para outros, o dever de trazer advertências e alertas para o melhor caminho a se tomar. Para todos os momentos, para todas as situações, ad me cum = é aquele que vem em minha direção. É aquele que me ajuda a construir o que a vida é. Dessa certeza, procuro beber o que ela tem de bom.

quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Borboletear



Hoje é 25 de dezembro. Mais 6 dias e já estaremos de cara com o novo ano batendo suas asas nos caminhos que tivermos que traçar. Estou aprendendo a ver nossas pulsões internas como borboletas batendo suas asas querendo nos conduzir para alguns lugares. Nossos sonhos, por exemplo.

Não estou muito certo se são elas que estão batendo as asas para nos conduzir, ou se são nossas próprias pulsões que agitam suas asas. Daí, na luta entre o famoso Id e Superego (de Freud), a gente descobre os lugares onde está. E fica sabendo se foram dadas asas à imaginação ou não.

Com certeza, desde 1968, muitas borboletas dormiram aqui dentro ou tiveram asas cortadas - ora voluntária ora involuntariamente. Outras, no entanto, bateram tão forte e voaram tão plasticamente, que até hoje admiro a beleza do lugar para onde me permiti ser conduzido.

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Natal para desaprender



É Natal e todo mundo está revestido daquele espírito que aprendeu a cultivar para colher justamente neste momento do ano. Todo mundo fica tão cheio de bons desejos, que deseja o bem para todos o tempo todo. Não só bom Natal, mas já emenda Ano Novo e o imbatível tudo de bom. Comportamento aprendido. É preciso manter esse tipo de comportamento. Faz bem. Também é preciso desaprender outros tantos.

Muito engraçado como algumas coisas a gente realmente desaprende, isto é, perde a destreza e até um certo automatismo com que se fazia determinada ação. Uma língua, por exemplo. O não uso frequente dela provoca sérias dificuldades numa hora de necessidade imediata. Parece falhar o domínio lexical ou domínio morfossintático. Deixar de andar de bicicleta, também. De moto. Isso requer do corpo uma energia enorme para lembrar o que se fazia com naturalidade. Parece que a gente vai desaprendendo as coisas.

Que este Natal possa nos trazer a graça de desaprender pensamentos, sentimentos e atitudes destrutivas ou autodestrutivas, que em vez de fazer jus ao Natal (dando nascimento), fazem o contrário. Que o mestre Cotidiano possa nos ensinar a desaprender - o que vai depender de um grande esforço de cada um de nós. A começar por mim, isso vai fazer com que não só Natal seja bom, mas que todas as épocas de todos os anos, novos ou não, também o sejam.

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Exatamente impreciso



Em tempos de alta tecnologia, diante da nanotecnologia, as coisas têm se tornado bastante precisas. Os resultados de provas esportivas, por exemplo, trazem milésimos de segundos mensurados. Exames médicos detectam as mais ínfimas imperfeições que nem olhos de lince seriam capazes de perceber. Calculadoras chegam a resultados tão incrivelmente precisos, que a gente fica até assustado.

"Navegar é preciso. Viver não é preciso", disse o conhecido poeta modernista português, uma grande pessoa, por sinal, que vivia infernando pessoas com seus versos desconcertantes. E eu concordo com ele em que viver não seja mesmo preciso. Talvez porque o ser humano não seja mesmo preciso. Tem gente que ainda não decidiu se é ou não uma pessoa decidida.

Esse tipo de gente decididamente indecisa segue sua vida errante, segue adiante, mesmo que tenha de recuar para poder avançar mais. É um povo que acha que não fazer é uma forma de fazer. Que não falar é uma forma de dizer. É um povo exatamente impreciso.

sábado, 21 de dezembro de 2013

Parte do jogo



Sempre em construção a gente vai se mantendo no tabuleiro de xadrez que é o conjunto de dias que temos sobre esta Terra, tão pequena e insignificante diante do incomensurável Universo do qual ela faz parte. Nesse tabuleiro, outras peças ora ficam na nossa direção e interferem na nossa movimentação, ora bloqueiam nosso movimento. Às vezes até nos eliminam do jogo. São as pessoas, que, quer estejam do nosso lado ou do lado adversário, sempre interferem nos nossos movimentos. Assim, o jogo está sempre em construção.

A cada dia conhecemos pessoas que abrem ou fecham perspectivas de uma nova jogada. De uma manutenção de estratégia ou de mudança dela. Dessa forma, (e vice-versa) as pessoas ora revelam fatos de sua vida que nos animam e nos movem para adiante, ora revelam coisas que nos dão força para entender que certas experiências nossas foram bem menos dolorosas do que o que elas teriam vivenciado. Muitas vezes também nos colocam na expectativa de uma jogada magistral; do mesmo modo que nos colocam em risco de eliminação.

E assim segue o jogo: peões, cavalos, torres, bispos, rainhas e reis a serviço de um jogador muito maior do qualquer coisa de mais incomensuravelmente gigante que se pode imaginar. Todos achando que jogam como autores da própria jogada, sem saber que são manuseados pela construção de sua própria história, em constantes atos-contínuos reagindo aos movimentos da vida e das peças/pessoas que se colocam entre um momento sublime da vida e outro.

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Foro íntimo



Há 19.000.000 de processos esperando julgamento nos diversos foruns espalhados pelo Brasil. Há no Brasil 2.400 juízes. Alguns processos levam não meses, mas anos para se resolver. Muitos desses, depois que se resolvem, ainda serão objeto de recursos. Os recursos são levados a instâncias superiores depois de muito se postergar. E assim vai. Ou melhor: e assim não vai.

São muitos os motivos que levam a essa situação, para a qual o adjetivo "caótica" seria algo muito pequeno. Desde a complexidade própria de cada caso que toma a feição daquele que redigiu o processo de acordo com seus interesses, passando ainda pela espera por provas periciais e, pasme-se: passando também pela tamanha prolixidade dos textos jurídicos, como infinitos trechos copiados de outras sentenças, e mais: pela linguagem truncada e redundante que eleva para 80 páginas o que se resolveria em 5 ou 6. 10, se muito.

Olha, temo que muita gente tem algo parecido dentro de si. De tal forma, que acaba arquivando em suas infinitas salas de julgamento de foro íntimo um número significativo de casos que já poderiam ter se resolvido há muito tempo, se medidas relativamente simples tivessem sido tomadas. Muita gente envelhece assim, tomando a água velha da mágoa, ressentindo o gosto estragado do ressentimento. E assim vai. Ou melhor: assim não vai.

Arrependimento não mata



Vivenciar arrependimento é algo que faz parte da vida; é tão constituinte dela, que é muito difícil encontrar alguém que nunca teve do que se arrepender. Alguns se torturam por isso. Muitos sabem transformar o arrependimento em aprendizagem e, dessa forma, conseguem conviver melhor com a sensação de que poderiam ter feito ou dito algo de maneira diferente.

Crianças se arrependem de algo pelo qual tenham sido eventualmente ridicularizadas. Um xixi na calça ou na cama, por exemplo. Meninos se arrependem de ter batido desnecessariamente em um coleguinha, quando havia a possibilidade de isso não acontecer. Meninas se arrependem de ter feito fofoca de outra amiguinha, quando isso era totalmente evitável.

Mulheres se arrependem de ter escolhido um ou outro corte de cabelo, quando veem que o resultado não condiz com o que esperavam. Homens se arrependem de ter escolhido este ou aquele caminho, quando se descobrem ilhados por carros e sabem que a via paralela simplesmente flui. Bem-aventurado aquele que nunca se arrependeu. Mais feliz ainda é aquele que aprendeu com o arrependimento.

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Sempre ali



A lua sempre esteve ali. Pelo menos aos nossos olhos, despidos de qualquer aparato tecnológico que amplie nossa visão multiplicando-a milhares de vezes, ela sempre esteve ali. E sempre esteve com aquele mesmíssimo formato. Independentemente disso ainda pude ouvir hoje várias vezes: "Meu, olha o tamanho daquela lua!...!" Verdade. E isso porque estamos com os pés no chão e a cabeça nas nuvens.

E há quem diga: olha como está brilhante esta Lua hoje!! E, de fato, olhar para a lua hoje é um gesto suficientemente capaz de ressaltar o quanto ela está refletindo a luz do Sol, que é lançada sobre ela pelo Astro-rei. Nem é dela a luz, mas dá toda a impressão de o ser. E nós, que vemos com distanciamento apenas físico, admiramos o tamanho da Lua e o seu brilho.

Penso que seja assim também com a gente e com as pessoas que vemos de perto todos os dias. Há fatores cotidianos que nos fazem parecer maiores do que somos. Ainda que não o vejamos, uns e outros nos convencem de que estamos maiores. Do mesmo modo, os mais sensíveis percebem que há uma aura permanente, cuja cor designa um estado intenso de boas-emoções visitando sua cabeça! Mas não é nada demais manter os pés no chão, enquanto a cabeça vai às nuvens.

Cheiros



Não tem jeito, uma hora vem à superfície algo há muito escondido. Isso me lembra uma fala do filme "As duas faces de um crime" mais cedo o mais tarde os esgotos vão começar a se romper. É pouco provável que se consiga manter algo submerso por tanto tempo. Um ato heroico, um feito hercúleo.

Há alguns dias, a cada vez que abria minha geladeira, sentia um cheiro ruim, de pouca intensidade, mas ruim. Procurei e nada havia de estragado. Limpei tudo. E nada. Pois bem: hoje, depois de arrumar os últimos enfeites de Natal aqui em casa, fui fazer um bolo para nós - com a ajuda delas, é claro (aliás, o que me ajudam essas meninas...)

Não deu outra: quando quebrei o primeiro dos ovos, todo aquele cheiro saiu de uma só vez. (...) (...) (...) insuportável. E foi um corre-corre danado para fazer arejar o ar e deixá-lo respirável novamente. Já o segundo que quebrei estava meio rachadinho... daí, não é difícil concluir de onde exalava o cheiro que me incomodou por alguns dias. Então: às vezes a gente guarda dentro de casa, dentro da gente, coisas assim - que estão, em princípio, para fazer o bem. Mas que, no final das contas, são indesejáveis.

sábado, 14 de dezembro de 2013

Viver de vontade



Uma das coisas mais importantes na vida é justamente vivê-la com vontade, o que, em outras palavras pode significar fazer as coisas - as pequenas e as grandes coisas - com amor. Independentemente do que seja amor para cada um. É claro que, como tudo, isso vai variar não só de pessoa para pessoa, como também da pessoa para com ela mesma - dependendo da situação do tempo etc. Embora varie, raramente um gesto de amor estará associado a algo ruim.

Desde uma prática social considerada absolutamente simples até outra, tida como de  grande complexidade, todas estão abertas para o fato de que, se feitas com a intenção de produzir o bem, de gerar ou de manter o que é bom, todas haverão de trazer resultados muito mais agradáveis do que se forem feitas com indiferença (que é pior do que fazer algo mal intencionado).

Há poucas horas, acabamos de tocar e cantar na formatura dos alunos de terceira série do Ensino Médio. Havia em nós um cuidado e um brilho, somados à alegria de estar participando daquele momento singular da vida de alunos e pais, que não poderia ser outra coisa, não poderia ser outro o sentimento que nos guiava. O resultado não poderia ter sido outro: foi sensacional. Justamente porque estávamos fazendo uma das coisas mais importantes da vida: vivê-la, a cada momento, com vontade de viver.

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Reconhecimento



Precisa de muito, não. E ninguém neste mundo de todo mundo vive ou, simplesmente, faz algo apenas para ser reconhecido. Em pleno juízo penso que as pessoas fazem o que fazem porque querem fazer o que fazem e julgam que aquela atitude é a melhor para o contexto que se configura diante dela.

Viver sem depender de reconhecimento alheio é algo que traz uma liberdade incomum, na medida em que a alegria passa a vir do próprio gesto, e não de um possível obrigado ou de alguma forma de retribuição ao gesto. Todavia, quando o reconhecimento vem, seja da forma que vier, quem o recebe se sente muito bem.

Outro dia, homenageamos uma colega de trabalho, e o fizemos publicamente cantando para ela. Foi simplesmente emocionante, dada a surpresa do gesto acalentado em segredo até aquele momento. Agora neste final de ano é comum vivenciar uma série de encerramento de ciclos - o que provoca certas mudanças (de série, de equipe, de lugar etc.). Este é um momento em que se pode viver a alegria de reconhecer - mais do que a necessidade de ser reconhecido.

A roupa da beleza



Quando a gente lida com bebês, tudo neles parece tão agradável, tão apaixonante. Eles babam e a gente acha lindo, se encharcam de xixi e a gente fica encantado. A gente até estimula a que arrotem. Eles dizem coisas incompreensíveis e parecem não compreender quase nada do que lhes falamos. É assim: uma série de imperfeições. Tudo, porém, segue totalmente encantador.

Em vida adulta, a relação parece a mesma, sobretudo, quando se está apaixonado. Dessa forma, uma assimetria qualquer no corpo, um leve estrabismo, um dente meio desalinhado, um defeito de fala, alguns hábitos... enfim, tudo a paixão veste com a roupa da beleza.

Nas práticas sociais também é assim. Se as coisas forem feitas com amor, dedicação e espírito livre, as falhas são consideradas tão pequenas, tão irrelevantes... são entendidas como parte do processo e como oportunidades para aprender. No entanto, feitas sem esse espírito, sem essa paixão, quaisquer práticas potencializam a mais insignificante das falhas. Despidas da roupa da beleza, são execradas. Elas e seus praticantes.


segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

O corpo grita



Tem jeito, não. O cara depois dos 40 e... deve torcer para não ser vítima das dores, ao mesmo tempo que não deve torcer nada, justamente para evitar dores. Tem hora que o corpo grita mesmo. Dá até pra ouvir os nomes feios, palavrões santos para ele: Dorflex!!! Tandrilax!!!!

Quem leu o clássico "O corpo fala" não tem ideia do que ele grita. Todas aquelas posições de braço, de cabeça, de perna, se se coça aqui, se se aperta ali, se se cruza daqui, se se descruza de lá... olha... nada disso fica assim tão facilmente realizável quando o corpo chega a esse ponto de gritar tais palavrões.

Quem viu "O corpo que cai" não passa nem perto de entender o que uma queda faria a um corpo que clama. Nem Hitchkock teria previsto o horror que é esperar a dor vir de cada movimento, de qualquer mexida. Mas, a gente, que sabe como é um pouco de tudo isso, concorda que "o corpo ainda é pouco. O pulso ainda pulsa".

domingo, 8 de dezembro de 2013

Coisa de homem?

Heuler Andrey/AGIF

Sei bem que, preconceituosamente, dizem que futebol é coisa pra homem. Pra homem ver. Pra homem assistir. Mas o que vimos hoje nas arquibancadas não era coisa pra homem. Pelo menos não pra ser humano. Pra gente de bem, que tem família, que espera voltar pra casa e encontrar os filhos, que espera ir trabalhar na segunda. Nem mesmo pra gente que um dia pretendia voltar ao estádio. Não é coisa pra gente.

É fato que algum psicólogo vai dizer que uma arena como aquela é um palco propício para a liberação dos impulsos primitivos do Id. Ou que um sociólogo vai dizer que fatos assim servem para mostrar as formas de as diferentes composições sociais se relacionarem em determinados contextos. Algum religioso vai dizer que aquilo é coisa do diabo. Enfim, alguém dirá uma forma de explicação para aquilo. Vão dizer que sou fraco, que sou antissocial, que sou incrédulo. Mas eu não quero ouvir.

Eu já tinha me proposto a não torcer mais por time de futebol depois que se provou que o campeonato de 2005 foi todo arranjado. De lá pra cá, tanto faz meu time ganhar ou perder. Tenho me limitado a assistir a um ou outro jogo pela TV e a jogar um futebol com os amigos. Depois de hoje nem torcer nem ver jogos pela TV, salvo um ou outro de grande importância. Bom, o futebol com os amigos.. .aí, sim.





Rejuvelhecer




O tempo passa para todos. E ele, dentro da sua lógica de funcionamento, não pede permissão para passar. Ele simplesmente passa. Como a chuva cai, como os dias vêm e vão, como a Terra roda e translada, como o Universo se move (sabe-se lá para onde). O tempo passa e deixa em cada um de nós marcas físicas e emocionais que nos fazem únicos nesse mundo de 8 bilhões de pessoas.

A gente envelhece. Nós envelhecemos. Assim como a linguagem vai do "a gente" para o "nós", as bermudas são substituídas pelas calças, as camisetas por camisas, as gargantilhas por gravatas, nós mesmos vamos assumindo certa formalidade que o tempo nos impõe. E é tanto, que alguns chegam a ouvir os padrões: isso é coisa de criança; isso é coisa de velho.

Na vida, penso que a gente envelhece inevitavelmente. Este nosso corpo humano é frágil e falho, é vítima do tempo. Podemos cuidar da saúde (fazendo exercícios, comendo e dormindo adequadamente) para envelhecer com dignidade. Isso nos faz viver com mais alegria, ou seja, nos faz rejuvenecer. Ou podemos simplesmente envelhecer. E mesmo jovens, viver como velhos - o que seria rejuvelhecer. De qualquer modo, como o universo, seguimos nossa trajetória (sabe-se lá para onde).

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Navalha do passado na carne


Ao cortar o cabelo hoje, me deparei com uma situação inusitada. Não: inusitada, não. Inesperada, talvez. Já faz um tempo que corto meus poucos cabelos ali e, até então, não haviam usado navalha para fazer o "acabamento" de alguns pontos. Quando vi o sujeito desenvolver do papel aquela lâmina, engoli seco, como se nunca tivesse passado por aquela situação. Era o passado visitando minha carne novamente.

Já passei e foi muito, afinal, já vivi algumas dezenas de anos e mais metade de uma dezena. Nem era gilete, ou Gillette, para utilizar o nome correto e dar o crédito à marca que virou sinônimo do produto. Logo após ficar pensando nesta metonímia, outro pensamento de maior extensão me veio à mente. (quanto delírio!!).

Lembrei de Navalha na Carne, de Plínio Marcos. Que texto! Representado pela primeira vez em 1967, um ano antes de eu nascer, o texto retrata as culturas marginalizadas, o submundo escanteado que de vez em quando vem à tona. Do mesmo modo que alguns pensamentos do passado, com suas máculas, seus gemidos de dor e suas lágrimas quentes e salgadas vêm cortar a carne da memória dominante. Nada inusitado. Mas inesperado. Para dar acabamento.

O feto e o ancião



400.000 anos. Idade de um fêmur encontrado na caverna Sima de Huesos, na Espanha. Há exatos três anos, foi descoberto em Israel (conforme a agência de notícias AFP) outro hominídeo de "mesma idade".

Inimaginável para mim, reles mortal, ou como disse uma aluna minha de oitavo ano: régis mortal.
No auge da minha incapacidade intelectual, me vejo como alguém totalmente incapaz de conceber a mais remota ideia do que sejam 400.000 anos

É muito curioso pensar que o chamado "homem moderno" tem idade aproximada de 200.000 anos. Não. Eu também não sei o que sejam 200.000 anos. Às vezes perco a noção do que são meus parcos 45 anos. Querer dizer algo a esse respeito desses hominídeos de 400.000 anos, neste momento, me parece algo parecido com um feto pretender comentar a respeito de um ancião. 

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Em seu lugar



O contato com adolescentes é mesmo fascinante no que diz respeito ao universo de aprendizagem que vivenciamos com eles. Com minha idade, eu já estaria na minha terceira adolescência e, por mais chavão que possa parecer, sempre há o que aprender com eles. Duas experiências recentes ilustram bem isso: a primeira, com minha filha; a segunda, com um aluno de Ensino Médio.

É sempre daqueles rompantes de ideias que parecem vir à luz, como se estivessem se apresentando para a vida naquele exato momento. Uma vivacidade de novidade que viceja de longe no olhar. "Pai!" - vinha ela com uma fisionomia cuja expressão era um misto de descoberta com indignação - "Você já reparou como estão erradas as pessoas que falam que se estivessem em nosso lugar agiriam de forma diferente?". Frente à minha negativa, ela disse: "Pensa: se alguém estivesse no meu lugar, ela estaria sendo eu. Logo, ela pensaria, seria e agiria como eu!". É, no mínimo, intrigante a reflexão que ela propôs.

Depois daquelas reflexões de velho experiente, de quem já passou por mais da metade da vida, sempre vem aquele conselho, aquela orientação de quem se vê num estágio de sabedoria superior: "olha, já passei por isso aí; sei exatamente o que você está passando. Quando enfrentei isso, tomei esta e aquela medida". E o jovem, iludido pela aura de sapiência, é levado a acreditar que o velhinho não só passou pela referida situação, como também que a superou. É... só estando no lugar para saber.

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Vozes de crânio

2.dez.2013 - Construções antigas nas ruínas de Shimao, na China. Arqueólogos acharam crânios de mais de 80 jovens mulheres que foram sacrificadas há mais de 4 mil anos. À direita, um túmulo protegido com gesso em uma vala comum

Particularmente, acho interessantíssimo o trabalho científico, que é, algumas vezes, muito gratificante. Principalmente quando traz à tona vozes caladas pelo tempo; quando dá luz a razões silenciadas por conta de predileções políticas ou sociais;  quando escancara rostos mascarados e velados por supostos adereços de má fé.

Nesta semana, arqueólogos descobriram crânios de quase 100 mulheres sacrificadas há mais de 4.000 anos na China. Os peritos trabalham com a hipótese de que as mortes teriam acontecido como decorrência de rituais religiosos praticados naquela região. A causa das mortes é apenas uma das coisas que importam agora. Diversas vozes se farão ouvir pelo discurso silencioso daqueles crânios femininos.

Tal qual Hamlet, que, diante do crânio que sustentava em suas mãos, perguntava se o que importava de fato era ser ou não ser, ficamos todos pasmos diante da retórica que brotará das descobertas advindas da história dessas mulheres e de sua cultura. É... às vezes o passado fala alto, quando a gente menos espera.

domingo, 1 de dezembro de 2013

Sem efeitos especiais

Dan Watson/The Valley Signal Santa Clarita/AP

Fui surpreendido hoje de manhã pela notícia da morte do ator Paul Walker. Desde seu lançamento, eu já havia ficado impressionado com o que os atores faziam com seus carros em todas as edições do filmes Velozes e Furiosos. Independentemente dos chamados efeitos especiais, que tiram a gente do plano da realidade e constroem um mundo possível no plano da fantasia. Será que por algum momento Paul Walker deixou de distinguir esses dois mundos?

Os destroços que sobraram de carro que ele dirigia não dão o menor vestígio de que um dia aquilo foi um carro da marca Porshe. Aliás, não deixam o menor vestígio de que aquilo foi um carro. Irreconhecível. Um acidente matou o ator que vivia verdadeiras acrobacias em seu carro. Um acidente matou a pessoa que não conseguiu parar na faixa que separava a realidade e o filme.

A armadura do Homem de Ferro, a machadinha do Thor, a criptonita do Super-Homem... não existem. Na verdade, não existe nem o Homem de Ferro nem Thor nem Super-Homem. Embora falem dos nossos poderes desconhecidos, nossas dimensões etc., o mundo que a gente vive é mesmo limitado. Sem efeitos especiais.

Abrir mão



Não é incomum que em diversas situações na vida a gente se veja pressionado por abrir mão de algo que nos atrapalhe nesta ou naquela situação. Também não é incomum, e aí é mais triste, que a gente se sinta pressionado a abrir mão de algumas pessoas que, por fazerem demais ou por fazerem de menos, emperram ou retardam este ou aquele projeto que estejamos desenvolvendo.

Nesta semana, por exemplo, me vi envolvido em gravações de vídeos educativos voltados para o ensino de Língua Portuguesa. Embora estivesse tudo conversado e preparado para apenas chegar e gravar 40 minutos em 5 horas, a coisa não andou. Na equipe havia alguém que não funcionava na mesma sintonia, que não tinha os mesmos cuidados, alguém cujas ações precisavam de reparos constantes. Foi necessário parar.

Na vida também é assim, eu acho. Só que às vezes - diferentemente de um trabalho, que pode ser retomado em outro momento, como o que citei acima - algumas cisões são pra vida inteira. Uma demissão é um claro exemplo disso. Um divórcio também. Em todos os casos, a necessidade ou o desejo de fazer a coisa andar a contento de quem pode mais: do companheiro de trabalho, do chefe no serviço, do cônjuge.